quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Laços de família

Marcar hora para encontrar parentes fortalece vínculos afetivos, diz especialista

Por Andrea Guedes






Tente responder rápido: fora os parentes que moram com você, quantos mais você costuma encontrar com regularidade? Por onde andam irmãos, primos, tios? Espalhados mundo afora? Não espere o Natal chegar. Mostre sua disposição para atualizar os afetos, e convença a todos a agendar reuniões para o ano inteiro. O próximo almoço pode ser bem festivo.

Isso mesmo. Assim como há reuniões de condomínio, incansáveis horas gastas no trabalho, mais incontáveis encontros em que a presença é obrigatória, manter contato mais próximo com parentes é um esforço que vale a pena. Essa é a opinião da psicóloga Rosely Sayão. Segundo ela, a família resiste e sobrevive em função dos vínculos reforçados no convívio.

Estranhamente, a família ocupa dois lugares opostos nos dias de hoje: ela é a base do ser humano, e ao mesmo tempo representa a esfera mais distante dele. Para a antropóloga Mírian Goldenberg, a família ainda é um valor para a maior parte dos brasileiros. "As idéias de afeto, estabilidade, segurança, apoio estão muito associadas à vida familiar. O que nem sempre é a realidade das famílias brasileiras. Ter uma convivência entre parentes harmônica e rica é fundamental, mas tarefa difícil em tempos tão complexos", destaca a antropóloga.

Infelizmente. Como diz Rosely, principalmente para as crianças as reuniões de família são importantes. Com elas, os pequenos observam as relações e aprendem que os afetos são complexos, mas que é possível discordar do outro sem haver brigas. "Além disso, reencontrando os familiares atualizam-se os afetos, e compartilham-se as histórias pessoais de cada um", completa a psicóloga.

A falta dos vínculos familiares também afeta o outro extremo da árvore genealógica. De acordo com Mírian, a solidão e a sensação de abandono fazem tremer os mais velhos. "Em um mundo de laços tão frágeis, em que o consumo é o principal valor, as relações afetivas também são descartáveis e superficiais. É preciso mudar isso. e o caminho está na busca de valores mais profundos em nosso cotidiano, e não apenas na época de festas", reforça.

Mas fazer com que esses encontros perdurem ao longo do ano depende de cada núcleo. "Cada família pode inventar suas formas de trocar, de dar afeto, de aprender, de crescer. É muito difícil encontrar um equilíbrio em momentos como o que vivemos. Exige um trabalho árduo, de reflexão, de diálogo e de tolerância", pondera a antropóloga. Mas que é possível, isso é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário