O desperdício tanto de alimentos quanto de espaço físico infelizmente é uma realidade que assombra o mundo. Porto Alegre, capital da qualidade de vida, esconde por trás de seus parques e shoppings luxuosos uma camada de pessoas vivendo abaixo das linhas da pobreza, as quais poderiam ter uma vida digna se todos os recursos da cidade fossem usados corretamente.
Porto Alegre possui 13012 imóveis públicos desocupados, segundo dados da Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos em contrapartida há 1206 moradores de rua, segundo a FASC, e esses números só aumentam se formos falar em pessoas que possuem moradia, mas vivem abaixo da linha da pobreza. Rogério kreiquis Fagundes faz parte das 87 mil famílias porto alegrenses que possuem um lugar para dormir, mas não se alimenta corretamente em função da falta de recursos, (dados do Bando de Alimentos de Porto Alegre). Fagundes há sete anos viu sua vida mudar, com os primeiros sinais de tremores no corpo, era a epilepsia uma doença caracterizada pelos sinais elétricos incorretos do cérebro. Após o diagnóstico Fagundes sofreu um atropelamento que o obrigou a usar bengalas e o afastou definitivamente da sua profissão de pintor de casas. Devido às adversidades Fagundes não desanimou e fez o que estava ao seu alcance para se sustentar e ajudar a irmã portadora de câncer, com a qual ele mora. Fagundes passou a pedir esmolas no centro de Porto Alegre, chuva ou sol, lá está ele na Avenida Otávio Rocha, sentado na calçada com suas muletas e uma bíblia pedindo uma moeda ou um simples sorriso. “As pessoas passam e fazem de conta que eu não existo, me tratam pior que um cachorro, não precisam me dar dinheiro, mas podiam pelo menos olhar nos meus olhos.” Desabafa Fagundes. O ex – pintor se diz muito descontente com o desperdício que ocorre na capital gaúcha, tento consciência de que o que as pessoas colocam no lixo poderia servir de alimento para ele e a irmã. Para Fagundes os governantes são os principais responsáveis por essa realidade. “O governo não se preocupa com a gente, eles não tem Deus no coração, por isso fazem leis como a que puni os donos de restaurantes que doam comida para as pessoas.” Fagundes está se referindo a lei 3.071, feita em 1916, a qual prevê pena de até cinco anos para quem doa uma refeição pronta, se essa prejudicar a pessoa que recebeu o alimento.
Em um país onde, segundo o IBGE, 14 milhões de pessoas passam fome, é inaceitável existir uma lei que iniba a doação de alimentos. O governo afirma que essa ação é para proteger povo. Mas e os 1.206 moradores de rua de Porto Alegre quem está protegendo? As 86 mil famílias que passam fome na capital gaúcha todos os dias, quem está protegendo? Fagundes acredita que a proteção vem dos céus. “Ninguém nunca me deu nada nessa vida, nem um governador me deu um cobertor, perguntou se eu tava com frio ou com fome, mas Deus está comigo”. Ele completa citanda uma passagem da Bíblia. “Um dia Maria chorou em frente a cruz e Jesus perguntou para ela. Porque choras se eu estou aqui. Jesus está aqui comigo e por isso eu sou muito feliz”.
Em contra partida a todas as necessidades do povo brasileiro 160 toneladas de alimentos são postas no lixo, segundo o DMLU. Tentando reverter esses números e mostrando que com boa vontade e organização é possível ajudar, o Mesa Brasil Sesc. importou uma idéia dos EUA, a qual foi posta em prática em São Paulo e hoje atua em todos os estados do Brasil. Segundo o gerente do Sesc Comunidade Alexante Daré, “a idéia exatamente era procurar em lojas e mercados alimentos que tenham data de validade curta ou que não apresentem mais valor comercial e distribuir esses alimentos para as instituições cadastradas no programa.” Para garantir a segurança de quem recebe as doações o Mesa Brasil, recebe apenas alimentos não preparados. As entidades assistenciais filantrópicas que desejam receber doações do Mesa Brasil precisam atender crianças, adultos ou idosos, e desenvolver ações sociais e educacionais. Entre as vantagens para as empresas que participam através de doações está a isenção do ICMS, diminuição de custos com operações de logística e eliminação de produtos sem valor comercial.
Além das doações de alimentos o Mesa Brasil, também se preocupa com o lado educacional visando diminuir o desperdício de alimentos, Daré citou um exemplo para explicar como o Mesa Brasil atua, “há cerca de dois meses nós recebemos cerca de 60 toneladas de farinha de mandioca, as cozinheiras não sabiam o que preparar com o mantimento, então nós desenvolvemos oficinas mostrando pratos variados que poderiam ser feitos com a farinha de mandioca.”
Tendo em vista as necessidades da população sabemos que ainda há muito a ser feito, porém ao nos deparamos com iniciativas como a do Mesa Brasil Sesc, podemos observar que os governantes estão dando alguns passos para a solução do problema, mesmo que sejam passos como os de Jorge Fagundes, que em função da epilepsia e do distúrbio nas pernas demora cerca de 40 minutos para cruzar uma quadra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário